ESTICAR

Desde sempre vivia para esticar. Pode parecer estranho, mas essa pessoa não fazia outra coisa desde que veio ao mundo. Esticava a língua ainda bebê quando sentia fome, ou já crescidinha e malcriada respondia alguém que lhe ralhava por alguma travessura.

Espreguiçava-se o tempo todo e o corpo já calejado obedecia, o mais engraçado é que ela não tinha pretensões de ser bailarina ou contorcionista. Simplesmente gostava disso. O tempo, ah o tempo! Era esse o que ela mais pensava em esticar, sua especialidade ou assim pensava que era. Ganhar tempo, procrastinava tudo, enrolava mesmo, o que poderia fazer em minutos, levava horas, o dia todo para fazer as tarefas. Sua mãe dizia: menina assim você só perde seu tempo. No entanto de nada adiantava.

Nos estudos as séries eram esticadas em vários anos de repetência, demorou tanto para se formar que quando pegou o canudo os cabelos já estavam brancos. Existiam duas coisas as quais ela não demorava: dar uma esticada para ver a vida dos outros na esquina e para começar a namorar, isso foi bem cedo, logo casou e adiava a hora de ter filhos, quando concordou com o marido o seu tempo de ser mãe já havia passado.

Esticou muito, esticou a vida, porém tudo que estica demais um dia se rompe. Doente demorou a se cuidar e então esticou as canelas pela definitiva e derradeira vez, sendo assim o seu fim, esticada.

Vampira Dea