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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

ENTREVISTA: AMADEU ALVES


Amadeu Alves Ribeiro Filho, nascido e criado perto do mar de Itapuã e da Lagoa do Abaeté, músico de mão cheia, que faz da sua arte, seu labor, sua vida, levando sempre poesia por onde quer que passe, a frente da Casa da Música como diretor compartilha aqui um pouco da sua vida e da luta pelo resgate e valorização da cultura local do bairro de Itapuã, seus trabalhos premiados para o teatro, e o grupo As Ganhadeiras de Itapuã 

 Dea- Como e quando você despertou para vocação musical?

Amadeu- Ainda na barriga da minha mãe, eu já tocava cordão umbilical, depois vivenciando toda a musicalidade que frequentava a minha casa, onde meus irmãos tocavam violão e me ensinaram, onde os amigos de meus irmãos traziam junto com a amizade, os instrumentos do grupo regional que animava as festas que minha mãe acolhia e participava com muita alegria. Nos discos que meu pai comprava e que fizeram parte da minha infância. Nas festas populares do meu querido Itapuã. Acredito, que no meu primeiro mês de vida, que foi o mês de junho, devem ter acontecido muitas coisas que me despertaram musicalidade.

Dea-  O bairro de Itapuã exerceu influencia nessa sua escolha?

Amadeu- O bairro de Itapuã é essencial nesse despertar, inclusive a nível ancestral, pois sinto minhas as tantas histórias ainda não contadas das tribos e aldeias que aqui existiram, que hoje estão guardadas em cada grão das areias brancas do Abaeté, por exemplo.

Dea-   Como vê o cenário musical da Bahia na atualidade?

Amadeu- É uma fonte abundante de possibilidades, que nem a pasteurização imposta pela indústria cultural que assola e tenta solapar a criatividade de nosso povo, vai estancar. Muito está sendo semeado, e já brota uma nova cena bem mais rica do que vimos nos últimos 25 anos.

Dea- Você fez a direção musical de alguns espetáculos premiados, um deles tive a honra de participar como atriz, fale um pouco sobre essas experiências.

Amadeu- Olha, dos espetáculos premiados que fiz direção musical, Um dia um sol (Deolindo Checcucci) arrebatou alguns prêmios pelo Brasil, em Florianópolis, em Guaramiranga no Ceará, João Pessoa. Ai veio Yába, Nasce Uma Nação (Hirton Fernandes / Grupo Tupã), revelação do teatro baiano (Prêmio Braskem), e no festival de teatro de São Mateus (Espírito Santo), além do grande prêmio que foi ter excursionado pela Dinamarca. Teve também O Vôo da Asa Branca, premiado e reverenciado pela crítica brasileira. E cada direção musical que fiz, entre as mais de 15 peças de teatro, espetáculos de circo, de dança, é sempre uma experiência vitoriosa quando você vê o resultado nos palcos e picadeiros, sentindo a reação da plateia. E nesse contexto, não posso deixar de falar da grande experiência do meu primeiro trabalho para teatro, que até hoje encanta o público onde apresentamos, chegando em 2015 aos 20 anos de carreira com quase mil apresentações, que é o FERNANDO PESSOA, com o grande ator Marcos Machado.

Dea-  Vc foi premiado com o troféu Caymmi, isso mudou alguma coisa no seu trabalho ?

Amadeu- Sem dúvida, de alguma forma o trabalho passou a ter mais respaldo. Não é qualquer trabalho que é premiado pelo Caymmi, numa categoria especial, concorrendo com nomes de peso do cenário cultural baiano. O respeito pelo artista passa também por esses reconhecimentos que chegam ao longo da trajetória.

Dea-  Atualmente vc dirige a Casa da Música em Itapuã, como entra na sua vida e o que ela representa ?

Amadeu- Tem coisas que acontecem pela força da história, e nesse caso a história do meu trabalho com a coletividade, com todo o esforço e dedicação a uma causa, as pessoas enxergaram e no momento em que se apresentou a necessidade da ocupação dos espaços culturais da Secult-Bahia por pessoas com perfil de empreender a dinamização dos locais com propriedade, naturalmente a peça encaixou e a engrenagem gerou todo esse trabalho que estamos desenvolvendo na Casa da Música. Ela hoje representa e é um polo emissor e receptor da cultura de Itapuã. É um órgão vital que bombeia um fluxo de seiva que alimenta algumas iniciativas artísticas do bairro. É um pequeno grande espaço da cultura baiana.

Dea-  Você vem realizando um trabalho de resgate cultural com as Ganhadeiras de Itapuã fale um pouco sobre esse trabalho.

Esse é um trabalho, fruto de muita dedicação, da busca de dar seguimento à tarefa de MANTER A TRADIÇÃO, e ao mesmo tempo seguir em frente. Estamos num momento especial, onde o grupo comemora seus dez anos de existência com o lançamento do seu primeiro CD. Pense em um grupo com 40 integrantes, com idades entre 10 e 83 anos. Com uns abnegados zeladores, onde além da minha pessoa, pode-se encontrar Jenner Salgado, Salviano Filho, Edvaldo Borges, trabalhando pela manutenção e sustentabilidade do grupo. E ai, muitas outras parcerias vem se juntando ao trabalho, que é uma referência da cultura baiana e brasileira.

Dea- Sua característica é a de sempre estar em movimento, em parcerias, quais os novos projetos?

Cuidar do que já foi plantado e plantar novas sementes, começando pelo trabalho interior de renovação e fortalecimento.
Quero poder cada vez mais me aproximar das coisas simples que me trazem benefícios, e na medida do possível mostrar algo para as pessoas que possa se tornar comum.

Dentro do trabalho musical que desenvolvo, onde a música instrumental é uma das vertentes mais fortes, venho trabalhando com a REDE SONORA, em parceira com Fabrício Rios, Jonga Lima, e outros tantos contemporâneos que podem ir a construir um trabalho cooperativo.

Um comentário:

  1. linda entrevista!!!
    sou muito fã do grande músico Amadeu, e sobretudo de seu maravilhoso trabalho de manter vivas as tradições musicais e culturais de nossa amada Itapuã!
    muita música!!!

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