A
tarde chega naquela praça totalmente desprovida de atrativos, pobre e sem graça,
seca e sem cor. Porém o sol se põe deixando uma tênue cor de rosa no horizonte,
talvez para o alento de quem passe. Contudo afirmo que não adiantaria ter graça
mesmo, pois o lugar estava repleto de uma gente que lutava dia após dia para
não perderem o mesquinho dom que tinham de existir repetindo seus dias de
mediocridade e nem perceberiam essas nuances.
Seres
humanos de aparência feia e linda, jovens e velhos, ricos e pobres
democraticamente dividiam este espaço e refaziam os mesmos caminhos todos os
dias, para ir aos mesmos lugares: Escolas, restaurantes,
hospitais, lojas, escritórios. Falavam os mesmos verbos, os mesmos adjetivos
pelos cotovelos, repetindo sem parar as suas idiotas convicções e nada
surpreendia, pois o cotidiano era banal e estavam mais que acostumados.
Ser
diferente neste lugar era proibido, assim àquele que infligia às regras sofria
duras criticas e depois eram isolados, fazendo com que não suportassem e
mudassem de cidade, mal sabendo o castigado que assim descobriria a liberdade. Mas
o ponto principal realmente era a praça. Neste espaço apontavam, indagavam e
rejeitavam qualquer tentativa mínima de autenticidade, até as crianças desse
lugar já nasciam aptas a vigiar para criticar:
Um
dia eu mesma enquanto anotava umas palavras aleatoriamente para construir algum
texto com elas, enquanto observava à tarde, fui indagada por uma linda menina
que passava no veículo escolar. O sinal fechou ela aproveitou e gritou apontando
para chamar atenção:
—O que é isso?
Perguntou da janela para meu colega que fazia o mesmo que eu, ele ficou meio
sem graça. Eu impaciente que sou vendo que o sinal não abria e a menina não
parava de atirar a mesma pergunta, respondi com a primeira palavra estranha que
me veio a cabeça:
—É
performance minha filha, é performance.
O
sinal abriu e ela se foi muito feliz com a resposta, compartilhando com os
coleguinhas, repetindo a palavra que nem sabia o significado. Mal sabendo ela
que já estava dividida por duas linhas finas, pois sabia vigiar os outros e ao
mesmo tempo corria perigo por demonstrar felicidade.
Sim,
isso mesmo que você deve ter pensando, feliz não era um estado permitido nesse lugar,
a não ser que fosse a breve euforia experimentada com a derrota alheia. E
voltando ao ponto principal a praça sem graça, aonde todos desfilavam ansiando
serem notados e como num grande concurso de vaidades disputavam tudo entre
olhares e risos de escárnio. O mais belo, o mais feio, o mais chato, o mais
rico, em fim o mais qualquer coisa que fosse. Mal sabiam que o destino comum de
todos os que desfilavam todos os fins de tardes naquela praça estava ali a
poucos metros, a sete palmos, no solo sagrado que ficava bem no centro daquele
palco coletivo de vaidades.
Vampira Dea
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