Seguidores

Mostrando postagens com marcador Dinamarca. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Dinamarca. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 14 de junho de 2011

CINEMA ALÉM DO ÓBVIO: DOGVILLE E MANDERLAY


Quem ainda não viu deveria experimentar essa experiência.
Trata-se de dois filmes do diretor Lars Von Trier que revolucionaram a forma de realizar cinema. Os dois filmes chamam atenção pela economia nos cenários, totalmente filmados em um galpão, a técnica na qual foram registrados: em uma única câmera controlada pelo próprio diretor e utilizando o mínimo de elementos, valorizando assim o trabalho dos atores.
Lars Von Trier nasceu em Copenhage em 30 de abril de 1956 e estudou na Danish Film Scool. Sua carreira teve inicio com o curta Orchidégartneren em 1987. Fundou com  Thomas Vinterberg o manifesto Dogma 95, também conhecido como “Voto de Castidade”, a principio teria dez regras que depois foram estendidas com mais cinco no qual propõe parâmetros para filmes de baixo custo, prezando a simplicidade e a valorização do ator.
Dog Ville, Manderlay e Wasington fazem parte da trilogia EUA. O primeiro Dog Ville foi lançado em 2003, o segundo Manderlay foi lançado em 2005 e o terceiro Wasington deveria ter sido lançado em 2007, mas devido a problemas com depressão do autor e diretor ainda não foi realizado.
Curiosamente somente um entre tantos filmes premiados e aclamados de Lars Von Trier pode ser considerado dogmático: Os idiotas. O Dogma 95 foi visto como um grito de liberdade contra a indústria cinematográfica altamente comercial. O diretor é considerado um verdadeiro carrasco com seus atores e atrizes e é incomum o trabalho com os mesmos atores e atrizes mais de um filme.
Este ano (2011) Durante o Festival de Cannes no qual o seu filme Melancolia participava, teve o infortúnio de fazer uma colocação de mau gosto declarando ser nazista. Pelo contexto de seus filmes acho difícil uma pessoa apreciar ser descendente de nazistas e se declarar um, prefiro pensar que foi uma resposta a impaciência gerada pelos jornalistas e dada sem reflexão.
Dogville foi lançado em 2003 e teve muito sucesso de critica por toda inovação da proposta. O filme poderia ser mais associado a um trabalho teatral do que cinematográfico, foi filmado dentro de um galpão aonde a iluminação marcava as passagens de tempo, começa com uma tomada no qual o cenário são desenhos de giz e poucos elementos, até uma das personagens é um desenho, o cão que desde o primeiro momento deixa claro que não gosta da forasteira que chega fugida a cidade, perseguida por gangsters.
A história se desenrola quando após a chegada de Grace (Nicole Kidman), demonstrando ser uma pessoa rica entra na cidade perdida entre as montanhas e o nada, ambientada nos Estados Unidos da Depressão de 1930, Tom o filho do médico aposentado, que vivia fazendo palestras para passar o tempo e doutrinar os moradores da cidade resolve ir a favor de Grace. Em troca ela deveria se fazer aceitar fazendo favores. Com o tempo os moradores descobriram que ela era uma foragida procurada por um crime e resolveram chantagear e usa-la. Ela se mostra passiva e não reage a nada.
A cada momento todas as baixezas humanas serão avivadas na cidade, é possível ler em determinados personagens a personificação dos sete pecados capitais: gula, avareza, inveja, ira, soberba, luxuria, preguiça. Ela passa até a ser estuprada pelos homens derrotados, menos por Tom que se não a agride também não faz nada para ajudar.
Ao fim como o dia do juízo Final o Gangster volta e aí se descobre que ele é o pai dela e como uma Sodoma e Gomorra quer a destruição da cidade por não existir uma única pessoa que valesse a pena. Grace se compadece num primeiro momento, mas depois resolve acabar com todos sem exceção.
Manderlay é o segundo filme da trilogia EUA lançado em 2005 e muito esperado após o sucesso de Dog Ville. Manderlay segue o mesmo estilo de Dogville e a história é a continuação do primeiro a partir de onde terminou. Saindo de Dogville, Grace agora vivida por Bryce Dallas Howard  para por acaso a porta da fazenda Manderlay com seu pai e percebe que existem pessoas trabalhando como escravos resolve então entrar na história para resolver, tentar levar a justiça.
Grace se depara com uma fazenda em que a escravidão continua, 70 anos após seu fim oficial nos Estados Unidos. Está no Alabama, estado do sul do país. É chamada a ajudar um escravo que seria espancado por roubar vinho  então ela usa as armas dos capangas de seu pai para obrigar a dona do local a libertar os negros escravizados. Seu pai não concorda e vai embora deixando-a.
Os recém-libertos reagem com medo e muita desconfiança. Nesta fazenda os negros eram classificados por tipos segundo a sua personalidade e isto estava registrado em um livro, era o que resmungava o palhaço, o amável, o fracassado. Neste livro estavam também escritas as obrigações que deveriam cumprir e entre elas passar em marcha a janela da dona da fazenda.
O negro mais velho da fazenda Wilhelm pensa que não serão capazes de se adaptar à liberdade. O orgulhoso Timothy desconfia das intenções da moça branca e rica. Contra a vontade de seu pai Grace Decide mostrar de forma autoritária que a liberdade vale a pena.
Obriga os brancos a trabalharem lado a lado com os negros e começa a reuni-los para explicar ideais de liberdade assim como fazia o Tom em Dogville com suas palestras. Os negros se mostram preguiçosos e revoltas passam a acontecer entre eles. Depois de algum tempo de infortúnios, progressos e retrocessos nessa sua escalada para conscientização da liberdade ela desiste e forjando o açoite a um negro, se vai com o pai que volta para busca-la.
A personalidade ambígua dessa personagem mostra que seu autoritarismo, sua hipocrisia, sua vaidade é alimentada quando faz ‘boas ações’, Em nenhum dos dois filmes se tem certeza se ela é a vilã ou a mocinha da história. Sua arrogância fica clara em suas boas ações, ela sente prazer em ser a que eles precisam, ou a que todos acreditam e seguem. Grace adota a servidão e acaba escrava. Em “Manderlay”, a personagem torna-se autoritária.
Os atores parecem tão perfeitos, naturais, orgânicos em sua atuação que há momentos que em ambos os filmes consigo ver, imaginar aquelas cidades sem paredes. A cidade Dog ville e a fazenda Manderlay estão vivas e parecem que em suas paredes invisíveis irão aparecer. Os dois filmes tem estruturas muito parecidas. Chama atenção como os atores levam seus personagens a induzir o espectador a ver o que eles veem, descrevendo texturas e cores, sensações.
Mesmo assim a atriz de Manderlay não consegue o mesmo carisma que Nicole Kidman. Os diálogos tem um tempo ritmo que nos deixa perceber o que está subentendido em cada pausa, respiração ou olhar. A trilha musical aparece poucas vezes em momentos menos dramáticos, nos dois filmes as pausas são fatores importantes, os silêncios bem preenchidos.
As paredes existem, são invisíveis, tem ouvidos e racham com os conflitos, como quando o cego é provocado e derruba a sua parede em Dog Ville, impressiona as cenas acontecendo e podemos ver que a cidade está viva, a fazenda é viva, pois os atores continuam agindo todo tempo mesmo não sendo a cena em foco. Manderlay tem um pouco mais de elementos, as colunas, as sacas de sementes.
A intolerância está presente em ambos e no segundo traz o elemento do racismo. Ouve protestos com relação como foi tratado, já que a escravidão nos Estados Unidos foi conseguida com muito esforço dos negros, uma questão não aceita é a de que não saberiam lidar com a liberdade, o que não precisa ser lido só para os que saíram da escravidão dos negros, há várias formas de escravizar e elas ainda existem.
Mas em determinada cena são repetidas frases de afirmação estigmáticas sobre os negros, como a de que negros são naturalmente violentos, que fez por merecer a escravidão. Isso não deverá ser lido como opinião do autor e sim como a sociedade se comportava e em alguns casos ainda agem e pensam sobre as diferenças.
Os Filmes quanto à mensagem não tem nenhuma dose de sutileza, dá todo o recado desenhado, uma critica ao ideal Americano de Liberdade, igualdade e fraternidade que tanto eles divulgam a existência e só eles não sabem que não existe de verdade.
Dois bons filmes que recomendo, para serem apreciados com calma absorvendo toda filosofia, pois abrem possibilidades para muitas discursões. Muita beleza, arte pura e inovadora deste grande diretor e sua equipe bem escolhida.
 

terça-feira, 5 de outubro de 2010

DINAMARCA MAR E CÉU AZUIS, DINAMARCA MAR VERMELHO, CÉU NEGRO


Como Alice no País das Maravilhas encantada com tudo, cheguei num mundo perfeito "". Foi a minha primeira viagem para o exterior e quase não podia acreditar no que se descortinava frente aos meus olhos: Um mundo colorido de flores por todos os lados, grama verde, um céu azul, um mar de sonhos e pessoas que mais se pareciam com um exército de Barbies e Kens. Era um conto de fadas. Todas as coisas funcionavam e bem, tudo bonito e limpo, chocolate, comida feita com esmero, pessoas hospitaleiras, muito frio apesar do verão e também tudo muito caro, tudo tem o seu outro lado foi a primeira coisa que descobri.. 

Croner
Cheguei a Dinamarca para um intercâmbio do grupo Tupã de Teatro Laboratório e Ragnarock. Iríamos apresentar Yaba Nasce Uma Nação em muitos teatros inclusive no Odin Teatret.Participamos de workshopings e oficinas por muitas escolas e até uma universidade. Uma escola de ensino fundamental me chamou atenção porque reproduziam a escola como uma extensão da familia: as crianças seguiam até os 14 anos com a mesma turma e professora, uma outra escola as crianças e adolescentes que administravam a escola.
Tudo acontecia no tempo certo, o trem passava por exemplo na inacreditável 8:25:15 acertavam e cumpriam até os segundos.

Castelo de Hamlet
Isso aconteceu há quase dez anos. E não quero que pensem que só consegui ver o aspecto negativo, mas é preciso perceber que nem tudo são flores no mundo real.Visitei várias cidades, conheci lugares de sonhos, mas curiosamente uma tristeza me tomava conta. Comecei a buscar rostos na multidão, rostos mais comuns, alguma imperfeição estética me tranquilizava, algum atraso me acalmava. Fui a um espaço, uma espécie de comunidade que agora não me recordo o nome onde outrora funcionou uma fábrica e hoje é como uma zona livre, onde existem suas próprias leis, isso me fez bem.Pais pequeno, tido como exemplo de paz, não se mete em conflitos, mas "Há algo de podre no Reino da Dinamarca".
Palavras de Hamlet meu anti-herói preferido. Não existe assim tanta perfeição , não é possível e eu tenho a impressão que qualquer coisa que saia da organização desestabiliza rapidamente um Dinamarquês,os índices de suicidios são altos (fala-se que a culpa é do clima), e eles têm uma tradição terrível, um ritual de passagem no qual se matam golfinhos,um verdadeiro massacre.

Massacre de golfinhos


Tivoli
Infelizmente nada é perfeito,estranhamente nunca me senti tão só, mesmo com tantas canções,festas, sorvetes,sorrisos, parques de diversões, jantares a luz de velas, aplausos, sorrisos, achava estranho toda essa perfeição e depois de conhecer um país tão lindo, voltei e amei como nunca meu país imperfeito.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O PRÍNCIPE E EU

Sempre que penso em um personagem me recordo de Hamlet. Não adianta ele é o preferido. Acho perfeito tantas dúvidas, questionamentos,tanto ser ou não ser, tem coisa mais humana?Pensando na época em que foi escrito( séc.XVI) não deixa de ser atual, toda essa agonia. Eu facilmente me apaixonaria por ele, adoro essas pessoas que se encontram meio perdidas, não sei porque.Realmente quem não se pergunta talvez viva melhor e feliz, eu já fui assim...
Nessa época o teatro era conhecido como elizabetano, por causa da rainha Elizabeth I que governou a Inglaterra por cinquenta anos e foi uma grande incentivadora do teatro.Shakespeare o grande autor de tantas obras maravilhosas como Muito Barulho Por Nada, Sonho de Uma Noite de Verão, Romeu e Julieta, e tantos outros, criou realmente um verdadeiro anti-herói na forma de príncipe.
Mas porque estou pensando em Hamlet? Porque essa noite sonhei com o dia que estive no castelo de Hamlet, na beira do mar e me imaginei fazendo parte da história. Penso que se eu fosse daquela época não poderia exercer minha profissão pois não era permitido mulheres nas encenações, mesmo papeis femininos eram feitos por homens,em companhias que se apresentavam em estalagens, companhias essas que com o tempo tornaram-se praticamente propriedade dos nobres, passando das estalagens para os salões. Mas porque falar nesse marco do teatro ocidental? Não sei... acho que me deu vontade de voltar a Dinamarca rsrss...