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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O PALCO DA TARDE


A tarde chega naquela praça totalmente desprovida de atrativos, pobre e sem graça, seca e sem cor. Porém o sol se põe deixando uma tênue cor de rosa no horizonte, talvez para o alento de quem passe. Contudo afirmo que não adiantaria ter graça mesmo, pois o lugar estava repleto de uma gente que lutava dia após dia para não perderem o mesquinho dom que tinham de existir repetindo seus dias de mediocridade e nem perceberiam essas nuances.
Seres humanos de aparência feia e linda, jovens e velhos, ricos e pobres democraticamente dividiam este espaço e refaziam os mesmos caminhos todos os dias, para ir aos mesmos lugares: Escolas, restaurantes, hospitais, lojas, escritórios. Falavam os mesmos verbos, os mesmos adjetivos pelos cotovelos, repetindo sem parar as suas idiotas convicções e nada surpreendia, pois o cotidiano era banal e estavam mais que acostumados.
Ser diferente neste lugar era proibido, assim àquele que infligia às regras sofria duras criticas e depois eram isolados, fazendo com que não suportassem e mudassem de cidade, mal sabendo o castigado que assim descobriria a liberdade. Mas o ponto principal realmente era a praça. Neste espaço apontavam, indagavam e rejeitavam qualquer tentativa mínima de autenticidade, até as crianças desse lugar já nasciam aptas a vigiar para criticar:
Um dia eu mesma enquanto anotava umas palavras aleatoriamente para construir algum texto com elas, enquanto observava à tarde, fui indagada por uma linda menina que passava no veículo escolar. O sinal fechou ela aproveitou e gritou apontando para chamar atenção:
 O que é isso? Perguntou da janela para meu colega que fazia o mesmo que eu, ele ficou meio sem graça. Eu impaciente que sou vendo que o sinal não abria e a menina não parava de atirar a mesma pergunta, respondi com a primeira palavra estranha que me veio a cabeça:
É performance minha filha, é performance.
O sinal abriu e ela se foi muito feliz com a resposta, compartilhando com os coleguinhas, repetindo a palavra que nem sabia o significado. Mal sabendo ela que já estava dividida por duas linhas finas, pois sabia vigiar os outros e ao mesmo tempo corria perigo por demonstrar felicidade.

Sim, isso mesmo que você deve ter pensando, feliz não era um estado permitido nesse lugar, a não ser que fosse a breve euforia experimentada com a derrota alheia. E voltando ao ponto principal a praça sem graça, aonde todos desfilavam ansiando serem notados e como num grande concurso de vaidades disputavam tudo entre olhares e risos de escárnio. O mais belo, o mais feio, o mais chato, o mais rico, em fim o mais qualquer coisa que fosse. Mal sabiam que o destino comum de todos os que desfilavam todos os fins de tardes naquela praça estava ali a poucos metros, a sete palmos, no solo sagrado que ficava bem no centro daquele palco coletivo de vaidades.
Vampira Dea

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